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Entendendo um pouco melhor a crise do Euro, o Brexit e seus impactos sobre a economia mundial

Atualizado: 1 de nov. de 2021









Por Leonardo Condurú (atualizado em outubro/2021)


In Prognósticos Setoriais e de Conjuntura. Publicado na BRNET em janeiro/2012 (em parte, “a crise do Euro”)


I. A crise monetária da Zona do Euro


A crise da dívida europeia é, originalmente, de natureza estrutural. A rigor, vem desde a criação e início da circulação do Euro (EUR ou €), em 2002, quando se misturou numa mesma cesta, pesos-pesados e pesos-pena da economia, como Alemanha e Grécia, cujas diferenças nos critérios de medição de riqueza podiam chegar a 45% entre um e outro, para citar apenas esses dois opostos.


Posteriormente, a crise financeira americana de 2007/2008 (das hipotecas e dos créditos subprime) se alastrava para o resto do mundo, afetando seriamente o crédito bancário dos países da Zona do Euro e aumentando fortemente o seu endividamento que em 2008 já superava os 250% do PIB, e forçando o BCE a políticas monetárias mais agressivas de modo a proporcionar liquidez para os mercados financeiros europeus.


Como os empréstimos subprime americanos, na pré-crise de 2007, eram de baixíssima liquidez, não gerando fluxo de caixa (ou floating) para os bancos que os concediam, as instituições financeiras credoras, resolveram, em conluio, definir uma estratégia de securitização desses títulos, transformando uma massa de papeis lastreados em quase nada, em derivativos negociáveis no mercado financeiro internacional.


Estranhamente, créditos podres, de altíssimo risco, obtiveram a chancela máxima (AAA) das principais agências classificadoras de risco americanas, que os tornavam tão sólidos quanto os títulos do tesouro americano e mais confiáveis do que os bônus do Governo brasileiro, por exemplo.


Foi a compra e venda desses títulos em enormes quantidades o que provocou o alastramento da crise americana para as principais instituições financeiras do mundo, onde investidores, bancos e fundos de investimento passaram a disputar a aquisição desses títulos como garantia para a tomada de novos empréstimos, alavancados na base de 20 para 1, trazendo a lume o endividamento bancário europeu e o agravamento da dívida de países e suas famílias.


Na realidade, a Zona do Euro[1] compreende um grande mercado em desequilíbrio, que congrega interesses díspares em jogo: a Alemanha querendo vender seus produtos aos vizinhos sem mexer no câmbio; a França esperando se beneficiar do crédito barato da própria Alemanha; Portugal e Espanha germinando bolhas imobiliárias, sem as quais não poderiam crescer, e, ainda, um sistema monetário desigual, sem lastro e paridade com o “tesouro” europeu, o BCE.


Os critérios de adesão ao Euro, que deveriam ser seguidos por todos os países, tais como (i) rígido controle de inflação; (ii) déficit público não superior a 3% do PIB, e (iii) dívida pública menor ou igual a 60% do PIB de cada país, hoje, mais de dez anos depois de sua criação, foram sistematicamente superados por praticamente todas as economias da Zona do Euro.


No caso da dívida pública, por exemplo, as da Alemanha e França já batiam a casa dos 80% de seus PIB, enquanto as dos demais países se aproximavam ou mesmo ultrapassavam 100% do PIB, como no caso da Grécia, com dívida superior a 150% do seu PIB e que crescia a taxas de 15% a.a.


O Fundo Europeu de Estabilização Financeira e o BCE disponibilizaram no auge da crise cerca de €200 bi, ou pouco menos da metade daquilo que seria necessário (cerca de €500 bi) para o ajuste monetário da Grécia, um dos países do grupo PIIGS 2 em crise.


Os principais bancos europeus, contudo, relutaram em aumentar suas participações para amenizar a situação dos demais países com problemas similares, a menos que conseguissem taxas de juros mais atrativas em seus aportes, que passariam de 7% para algo em torno de 9%, nível considerado proibitivo pela maioria dos países do bloco.


Como subconjuntos da crise global de 2008, os países da Zona do Euro continuavam a ignorar suas próprias fraquezas. Enquanto a Polônia, a Bulgária, a Letônia, a Lituânia e até mesmo a Hungria se esforçavam em fazer o dever de casa para passar no vestibular e ingressar na Zona do Euro, outros, como o Reino Unido, leia-se Inglaterra, se omitiam e viravam as costas para uma pretensa união monetária europeia.


Mantendo-se todos esses desalinhos, era de se esperar uma crise mais prolongada nesse mercado, com reflexos no resto do mundo. A dissipação daqueles conflitos, portanto, vinha demandando grandes sacrifícios de boa parte da população europeia, em especial dos PIIGS, tais como: (1) redução da função de bem-estar desses países, com congelamento de salários, demissão de empregados no setor público e aumento de idade mínima para aposentadoria; (2) aumentos de carga tributária e criação de novos tributos; (3) redução da atividade econômica; (4) desemprego generalizado, com insatisfação popular e movimentos grevistas.


No limite, uma forte depreciação cambial poderia ser necessária (ainda que não consentida) para equilibrar as contas de determinado país, por hipótese, a Grécia, nesse caso podendo acarretar até em sua saída do bloco comum.


Afora os ganhos políticos advindos com a criação de uma “nova” Europa, a gravidade da situação na Zona do Euro sob a ótica econômica era inequívoca e só poderia ser minimizada através de cooperação em larga escala de todos os países do próprio bloco, incluindo-se aí também a ajuda do FMI e dos principais países emergentes, como o Brasil.


Nesse sentido, impunha-se como fundamental a criação de um autêntico banco central para todo o bloco, com funções típicas de autoridade monetária e emprestador de última instância ao sistema bancário, de modo a se promover o enquadramento das dívidas dos países-membros, com o devido lastro na moeda única, o Euro.


Daí, então, poder-se-ia postular pela união europeia, com a criação, de fato, daquela nova Europa, não de paixão, mas de necessidade, adstrita talvez ao conjunto de países que compõem, hoje, a Zona do Euro. E, desse modo, poder integrá-la, como um dos atores, num mundo mais multilateral, junto com os EUA, a China, o Brasil, a Índia, a Rússia e o Japão.


Em fins de 2011, os líderes políticos de 23 países europeus decidiram apoiar um novo tratado com supervisão mais rigorosa dos orçamentos nacionais, mas não conseguiram a adesão de outros quatro integrantes da União Europeia (UE), incluindo a Inglaterra. A proposta foi de um endurecimento da disciplina fiscal com uma reforma do Tratado de Maastricht, contemplando a possibilidade de se impor sanções automáticas para os países infratores cujo déficit viesse a superar 3% do PIB.


Com este novo tratado, os países da Zona do Euro chegaram a um consenso e confirmaram um reforço de caixa de €150 bilhões ao FMI para ajudar os países com dificuldades econômicas (particularmente os integrantes do grupo PIIGS[2]) e, com isso, tentar evitar o aprofundamento da crise financeira internacional.

Também nessa direção, um conjunto de 523 bancos conseguiu captar cerca de €489 bilhões, com duração de três anos, na mais recente e ousada tentativa do BCE para aliviar os problemas da Zona do Euro, dando esperanças de que uma crise de crédito pudesse ser evitada e que esse capital viesse a ser usado para comprar as dívidas da Itália e da Espanha.



II. As perspectivas futuras para a economia europeia


Apesar das expectativas para este e o próximo ano (2013) não serem das melhores, já por conta das ações tomadas pelos governos europeus para superação da crise do Euro em fins de 2011, uma boa notícia parecia dar alento àqueles que acreditavam numa solução mais rápida da crise: no primeiro leilão do ano, os títulos das dívidas de três anos da Espanha e da Itália, foram adquiridos por taxas de 3,3% e 4,83%, respectivamente, substancialmente menores do que as que vinham sendo exigidas nos leilões anteriores.


A OCDE apontava o bloco econômico como em recessão e revisava suas estimativas de crescimento da economia de seus 34 países membros para 1,9%, em 2011, e 1,6% em 2012. O BCE também reduzira suas projeções para o PIB da Zona do Euro em 2012, sinalizando a possibilidade de uma contração de 0,4% a uma expansão de 1%.


A queda da confiança, a deterioração das condições financeiras na região e a demanda externa mais fraca são apontadas como principais entraves a um crescimento mais forte e que certamente terão impactos sobre a economia do resto do mundo.


Para 2011, a projeção era de um crescimento da economia entre 1,5% e 1,7%. Diante desses números, que mostravam um claro desaquecimento da economia europeia, o BCE reduziu a taxa básica de juros de 1,25% para 1,00% a.a. A taxa de desemprego da zona do euro havia subido de 10,2%, em setembro, para 10,3%, em outubro, a maior desde junho de 1998. De acordo com a Eurostat, havia, naquele ano, 16,29 milhões de desempregados, um número recorde para a série histórica iniciada em janeiro de 1995.


O custo de proteção contra risco de calote sobre a dívida soberana dos países da Zona do Euro (CDS - Credit Default Swap) começava 2012 batendo recordes, refletindo a persistente inquietação dos mercados com os rumos do bloco europeu. O seguro contra um calote da dívida do Brasil, por exemplo, estava mais barato do que o cobrado de quase todos os países da Zona do Euro, com exceção da Alemanha, Finlândia e Holanda, como revelara a empresa de consultoria britânica Markit, conforme mostrado no quadro a seguir.


A título de ilustração, o prêmio do CDS (Credit Default Swap) para a dívida brasileira com prazo de cinco anos fechava a primeira semana de janeiro a 161 pontos, comparado aos 235 pontos para França, 449 para a Espanha, 529 para a Itália ou 1.105 para Portugal.



Os dados do gráfico acima mostravam que, para cada US$ 10 milhões em dívida emitida pelo Brasil o custo do seguro exigido está em US$ 161 mil ao ano, em média. Para a França, o custo está em US$ 235 mil e, no caso de Portugal, chega a US$ 1,1 milhão. Em relação à Grécia, o prêmio chegou a 1.700 pontos em julho passado.


Discussões prosseguiam entre credores e autoridades europeias, com potencial impacto no mercado de CDS. Os líderes políticos europeus pressionavam para que o setor privado credor da Grécia aceitasse perdas de 50% numa reestruturação voluntária da dívida. E, portanto, em tese, nesse caso não haveria nem calote e nem pagamentos no mercado de CDS para cobertura de perdas.


A economia da Alemanha surpreendia os analistas, com a sua produção industrial aumentando 0,8% em outubro, na comparação com setembro, na série com ajuste sazonal, um resultado que superava a previsão de alta de 0,4% e trazia uma recuperação em relação à queda de 2,8% registrada em setembro. As encomendas à indústria do país também cresceram 5,2% em outubro, em relação a setembro. O resultado ficara muito acima da previsão de avanço de 0,8% e teria sido impulsionado pela alta de 8,3% das encomendas externas.


A recuperação expressiva das encomendas confirmava a resistência relativa da Alemanha, já em 2011, à desaceleração cíclica em curso. A taxa de desemprego ajustada, por sua vez, recuava para 6,8% em dezembro, recorde histórico, atingindo o menor nível desde a reunificação do país, duas décadas atrás. Para a economia alemã, a maior do bloco, a OCDE esperava um ligeiro crescimento de 0,6% em 2012, sustentado pelo comércio mundial, pela melhoria da confiança e das condições financeiras do país.


O Reino Unido apresentava retração da indústria de 0,7% em outubro, enquanto seu PIB crescia 0,6% no terceiro trimestre de 2011, em comparação com o segundo, de acordo com o Departamento Nacional de Estatísticas (ONS, na sigla em inglês) do país.


Economistas acreditavam que o Reino Unido teria muitas dificuldades para crescer no primeiro trimestre de 2012, em parte porque a crise de dívida soberana da Zona do Euro vinha prejudicando a demanda pelas exportações do país e diminuindo a confiança do consumidor.


Internamente, a inflação corroía o poder de compra do consumidor, enquanto os esforços do governo para a consolidação fiscal pesavam sobre a demanda. E, na ocasião, já se falava abertamente numa possível saída da Inglaterra da Zona do Euro (o Brexit).


Na Itália, por sua vez, a indústria apresentava retração de 0,9% em outubro. O governo italiano também revisara para baixo suas estimativas para o crescimento do PIB do país para 2011, de 0,7% para 0,6%. Segundo o documento, o governo previra ainda a contração de 0,4% do PIB italiano para 2012. Em dezembro de 2011, o primeiro-ministro do país, Mario Monti, havia proposto um pacote de € 30 bilhões de medidas econômicas emergenciais, além de proibir pagamentos em dinheiro de mais de mil euros.


Igualmente, na Espanha, o novo primeiro ministro, Mariano Rajoy, anunciava que seu governo iria efetuar cortes orçamentários de €16,5 bilhões em 2012, prometendo iniciativas para reduzir o desemprego no país, o maior da Zona do Euro. Às vésperas de 2012, o governo espanhol anunciava um programa econômico para enfrentar a crise fiscal do país, revelando a fórmula para reduzir o déficit público: corte de gastos de € 8,9 bilhões e aumento de impostos para arrecadar € 6,2 bilhões, totalizando € 15 bilhões.


Porém, essas medidas provavelmente seriam insuficientes para reduzir o déficit de 8% do PIB, em 2011, para a meta de 4,4%, em 2012, um hiato de cerca de € 36 bilhões.


O desemprego na Espanha alcançava 4,4 milhões de pessoas em dezembro de 2011, número recorde que confirmava a deterioração da situação econômica no segundo semestre do ano.




III. A crise do Euro e a saída dos britânicos da União Europeia (Brexit)


A proposta de saída dos britânicos da União Europeia (Britain exit/Brexit) foi definida em plebiscito realizado em 23/06/2016, e que poderia ter grandes implicações tanto na União Europeia como na Zona do Euro (mesmo que o Reino Unido[3] continue usando a libra esterlina).

O resultado do pleito foi diferente nos países-membros do Reino Unido: Inglaterra e País de Gales optaram pela saída do bloco; Escócia e a Irlanda do Norte (Ulster) votaram pela permanência. O conflito interno tornou-se inevitável e os escoceses que votaram num plebiscito no final de 2014 para decidir se permaneceriam no Reino Unido, agora queriam outro.


A discordância quanto à permanência na União Europeia entre escoceses e ingleses, inflamou o nacionalismo separatista na Escócia para que houvesse novo plebiscito, já que não viam razões para permanecer no Reino Unido fora da União Europeia. O Brexit poderia comprometer as exportações inglesas, que direcionavam mais da metade da sua produção ao bloco.


Pesaram na decisão dos ingleses a crise europeia, que se arrastava desde 2010; a questão fiscal — são os terceiros maiores contribuintes com o fundo europeu e recebiam menos da metade dos recursos que aportavam ao bloco —, além da imigração, que aumentou drasticamente após a crise de refugiados provocada pela guerra da Síria.


A Escócia é parte do Reino Unido desde o início do século XVIII, e também possui seu movimento separatista. Há tempos o partido nacionalista vinha se fortalecendo até que foi realizado um plebiscito em 18 de setembro de 2014, para decidir se permaneciam ou saiam do Reino, mas por uma diferença muito pequena, 54% dos votos, permaneceram unidos.


O resultado não desanimou os nacionalistas que buscavam um novo plebiscito, já que a maioria dos escoceses preferia ficar na União Europeia, e o Reino Unido estava em processo de organização de sua saída. O parlamento britânico teria de decidir como iriam realizá-la.


A defesa do Brexit incluía argumentos como: (1) a restrição da entrada de imigrantes no país; (2) o aumento da soberania dos britânicos para decidir sobre assuntos de interesse interno, como saúde, emprego e segurança; (3) o aumento dos recursos públicos disponíveis exclusivamente para os britânicos, com o fim dos repasses de valores à União Europeia; (4) a melhoria das possibilidades de negociação em acordos bilaterais com outros países.


No entanto, para quem era contra a saída dos britânicos no bloco, o Brexit poderia (1) criar dificuldades para cidadãos do Reino Unido que quisessem viver em outros países da União Europeia; (2) prejudicar negócios hoje favorecidos com regulamentação e burocracia comuns entre os países; (3) reduzir lucros devido à cobrança de tarifas de exportação para os países europeus, destino de grande parte dos produtos britânicos exportados; (4) não ter qualquer garantia de que o dinheiro hoje repassado à União Europeia seria aplicado em demandas internas, como serviços de saúde e segurança.


IV. A União Europeia e seu contexto atual. O Pós-Brexit e as novas regras que passaram a valer a partir de 01/01/21


O bloco econômico passa por um dos seus piores momentos nas relações de integração. Desde a crise europeia, em 2010, e a grande dívida pública e os gastos dos PIIGS (Portugal, Itália, Irlanda, Grécia e Espanha), a tensão é evidente entre os membros do bloco, mormente agora diante da crise pandêmica mundial.


De um lado os maiores devedores (PIIGS) e os maiores credores (Alemanha, França e Reino Unido). A Alemanha chegou a propor que a Grécia saísse do bloco. Alguns gregos chegaram a anunciar um plebiscito de saída do país da Zona do Euro, o GREXIT, o que seria bem mais difícil por ser a Grécia um país muito dependente, economicamente, do bloco.


O Reino Unido, além de depender menos, era um membro pouco integrado, pois além de não usar o Euro, a moeda europeia, também não participava do Espaço Shenguen, o espaço de livre circulação de pessoas na Europa (nem todos os membros da União Europeia são do Espaço Shenguen e há países que não são do bloco e pertencem a ele).


As migrações associadas à crise e às novas regras do pós-Brexit, bem como os efeitos da pandemia do coronavírus, têm provocado um expressivo aumento da xenofobia (aversão a estrangeiros), inclusive afetando estudantes do resto do mundo que buscam oportunidades nos principais países europeus, em especial na Inglaterra, na França e na Alemanha.


Diante de um novo cenário, com novas regras, no tocante à Imigração:


(1) as pessoas que planejam se mudar entre o Reino Unido e a União Europeia não terão mais permissão automática para uma nova residência;


(2) nas viagens, britânicos e europeus em geral agora precisarão de passaportes distintos, seguro saúde e demais documentos pessoais que antes eram unificados na figura da União Europeia. Além disso, as pessoas que chegarem de qualquer país do bloco, voltarão a ter limites de valores de bens trazidos por passageiros, voltando a existir os duty-free nos aeroportos britânicos;


(3) O Intercâmbio universitário Erasmus será nacionalizado, substituído pelo Alan Turing em homenagem ao matemático inglês. Hoje, cerca de 150 mil universitários europeus estudam em algum centro de ensino superior britânico. A partir de agora, com o pós-Brexit, ficou mais caro e complicado entrar em uma dessas universidades. O que já vinha ocorrendo antes mesmo do pós-Brexit;


(4) antes do Brexit, as empresas britânicas podiam comprar e vender produtos dentro das fronteiras da União Europeia sem pagar impostos. Agora, sem estar no bloco, serviços e produtos importados da Europa terão novas tarifas. Porém, acordo garante o intercâmbio dos produtos sem direitos aduaneiros, nem cotas para "todos os bens que respeitarem as regras de origem apropriadas", condições inéditas nos acordos comerciais, segundo a agência France Presse.


Como era de se esperar, o pós-Brexit, cujas regras passaram a valer a partir de 01/01/21, tem causado impactos sobre a massa estudantil estrangeira que procura o Reino Unido e outros países, como o aumento de custos de estadia e de cursos mais procurados, bem como a redução de concessão de bolsas de estudos por entidades renomadas de ensino. Com isso, já se observava na Inglaterra uma redução de cerca de 30% na demanda de estudantes de outros países, nos anos imediatamente anteriores à pandemia da COVID.


Nos últimos anos, mais de dois milhões de refugiados e imigrantes entraram na Europa. Além da barreira cultural entre uma civilização cristã e outra islâmica, há também o argumento econômico da competição por empregos, o que tende a acirrar a aversão por estrangeiros.


A xenofobia, além de contraditória é fundamentada muito mais no preconceito, ou em retaliações políticas, pois as sociedades europeias possuem populações idosas, já ocorrendo falta de mão de obra, cada vez mais escassa, pois aqueles que se aposentam não são repostos por quem entra no mercado de trabalho, inclusive os outrora estudantes. E agora esta situação é incensada também pela pandemia da COVID.


No que parece uma clara retaliação política do governo francês às críticas que tem recebido do Governo brasileiro, particularmente em razão da atuação nociva de ONGs e empresas estrangeiras na região amazônica, eis que, numa desculpa esfarrapada, bolsistas brasileiros são impedidos de estudar na França por causa da COVID, enquanto os indianos, cujo país de origem foi também fortemente afetado pela mesma pandemia, obtiveram permissão para viajar.


Alunos e pesquisadores brasileiros — alguns deles com bolsa de estudos — lançaram uma campanha internacional para que o governo francês suspenda um bloqueio que os impede de viajar ao país para estudar. O motivo, que parece hilário, é a situação da pandemia da COVID no Brasil, vejam só.


O grupo, formado por cerca de 350 pessoas que passaram em exames e processos seletivos, mandou uma carta ao governo francês pedindo a liberação. Mas, desde 23/04/21, a embaixada da França no Brasil suspendeu a emissão de vistos a estudantes e pesquisadores, pois a categoria deixou de fazer parte dos motivos considerados imperiosos para entrar em território francês.


Contudo, em 09/06/21, a França chegou a flexibilizar a entrada de pessoas de alguns países, mas com o Brasil seguindo restrito por fazer parte dos países considerados em zona vermelha, a mais perigosa em relação ao coronavírus. No entanto, o embaixador da França na Índia, país que também tem a categoria vermelha, anunciou que os estudantes indianos teriam a chance de receber vistos de entrada.


Ou seja, a França, de Emmanuel Macron, emitiu sinais claríssimos de dois pesos e duas medidas no tratamento dispensado ao Governo e ao povo brasileiros: xenofobia; retaliação política por conta da propaganda nefasta que grupos de esquerda populista brasileira fazem contra o País na Europa, mormente na França; além da discriminação, em artifícios covardes, que tendem a prejudicar as relações até então harmoniosas entre dois países amigos.


V. As perspectivas futuras do pós-Brexit: impactos esperados sobre o Brasil e o resto do mundo


A princípio, o Brasil pode vir a ser afetado de duas formas: (1) indiretamente dependendo de como avançar a relação comercial dos britânicos com seus parceiros europeus. Hoje, 45% de suas exportações têm como destino a Europa. E, deste modo, a União Europeia sairia perdendo no divórcio com os britânicos (o Reino Unido é a terceira maior economia do bloco), o que sugere que os dois lados teriam interesse em manter boas relações; (2) diretamente, dependendo de como evoluam as tratativas de acordos bilaterais.

Comercialmente, o Reino Unido pode vir a ser parceiro relevante do Brasil, mas não está sequer entre os dez principais importadores de produtos brasileiros. Em 2019, o Brasil exportou US$ 2,96 trilhões aos portos britânicos, especialmente em ouro, soja, minério de ferro, café e frango.


Com a saída da União Europeia, o Reino Unido deve buscar aprofundar laços comerciais com outras regiões e diversificar, procurando parcerias na América Latina, na Ásia e na África, como apontam alguns analistas.


Nesse sentido, as exportações brasileiras teriam potencial para crescer, diante da política protecionista da União Europeia, que não encontra respaldo nos britânicos. E então o Reino Unido poderia aumentar, sim, as importações do agronegócio brasileiro e talvez de outros países.


As expectativas, desde o Fórum Econômico Mundial, de janeiro de 2021, em Davos, são de que o Brasil possa vir a ser um dos primeiros países a celebrar acordo com os britânicos, apesar das ressalvas advindas de acordo de livre comércio entre União Europeia e o Mercosul, ainda não ratificado, que daria de imediato ao Brasil acesso ao mercado inglês, o que pode demorar algum tempo ainda.


Além disso, qualquer acordo de cisão entre Reino Unido e União Europeia pode vir a ser doloroso tanto para britânicos quanto para os europeus e o pós-Brexit poderia trazer consequências negativas para a economia britânica, já que seriam 27 países europeus contra o Reino Unido, o que poderia levar ao desaquecimento econômico de toda a Europa, que, neste caso em particular, tenderia a comprar menos do Brasil.


Sob outro ângulo, como país-membro do Mercosul, o Brasil só poderia fechar acordos comerciais junto com seus parceiros-membros. No entanto, os países do Mercosul não andam lá muito afinados nos últimos tempos, havendo possibilidade, inclusive, de saída do Brasil do bloco econômico que ajudou a criar.


VI. A bolha de escassez enfrentada pelo Reino Unido em 2021


Outra forma pela qual o pós-Brexit poderia afetar a economia brasileira seria a hipótese de um desaquecimento da economia mundial, que poderia trazer incertezas tanto para o setor real da economia como para os mercados financeiros globais, onde se insere o Brasil. Especialmente agora, diante das instabilidades trazidas pelas deseconomias de escala provocadas pela pandemia da COVID, em boa parte da economia global.


Em suma, num contexto econômico ainda sitiado pelos impactos causados pela COVID, parece haver muito mais ainda a se especular relativamente à crise do Euro, o pós-Brexit e os seus impactos sobre a economia mundial.


A relativa melhora da conjuntura econômica de alguns países da Zona do Euro que vinha ocorrendo antes da pandemia, pode vir a ser objeto de novos estudos que tendem a levar a novas crenças, inclusive.


É exatamente o que vem acontecendo, hoje, com o Reino Unido. As restrições impostas à livre circulação de pessoas e mercadorias no pós-Brexit fizeram com que mais de dois milhões de estrangeiros abandonassem seus postos de trabalho e voltassem para seus países de origem.


Mesmo depois de flexibilização de algumas medidas tomadas pelo governo central, os trabalhadores que saíram resolveram não voltar, e a escassez de mão de obra já se faz sentir nos setores de transporte de carga, comércio e serviços, o que tem ocasionado séria crise de abastecimento e falta de produtos, em especial nos supermercados. Prateleiras vazias e lojas fechando são o seu retrato mais cruel.

Em suma, o Reino Unido encontra-se assolado por uma tripla crise de escassez que começa com o pós-Brexit, depois agravada pela pandemia da COVID e incensada pelos altos custos da energia, em especial depois dos fortes aumentos nos preços do petróleo e gás, aparentemente num círculo vicioso ainda longe de seu término.


Com a chegada do inverno e a descoberta de nova cepa do coronavírus, é possível que medidas de restrição à aglomeração de pessoas sejam reimplantadas pelo governo, como o home office, por exemplo, o que tenderia a agravar a situação atual.


Não à toa, as autoridades econômicas têm como certo um trimestre de fim de ano sitiado também por índices de inflação elevadíssimos, que tendem a avançar entre 3% e 5%, o que certamente faz acender um sinal de alerta para os ingleses que podem vir a encarar uma crise econômica e geopolítica sem precedentes em sua história.


Ademais, como um sopro de esperança, espera-se que novos cenários econômicos, mais promissores, se descortinem em favor do Brasil e dos brasileiros, é o nosso recado.


Para saber mais sobre o assunto, veja também:


Saída do Reino Unido da União Europeia Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.












[1]A Zona do Euro é composta pelos seguintes países da União Europeia, que adotaram o euro como moeda comum: Alemanha, Áustria, Bélgica, Chipre, Eslováquia, Eslovênia, Espanha, Estônia, Finlândia, França, Grécia, Irlanda, Itália, Luxemburgo, Malta, Países Baixos (Holanda) e Portugal. Alguns países pequenos que não praticam políticas de moeda própria usam também o euro: Andorra, Mônaco, São Marino e Vaticano. Montenegro também utiliza o euro como sua moeda oficial. Também no Kosovo, o euro passou a circular mesmo antes da sua declaração de independência.O Banco Central Europeu controla as emissões do euro e executa a política cambial da União Europeia. Está sediado em Frankfurt am Main, na Alemanha.

[2]PIIGS: Portugal, Irlanda, Itália, Grécia e Espanha. [3]O Reino Unido é formado por quatro países: Inglaterra, País de Gales, Escócia e Irlanda do Norte ou Ulster. Os britânicos são todos os habitantes das ilhas britânicas, as duas mais importantes a ilha da Grã-Bretanha e a Ilha da Irlanda. Na ilha da Grã-Bretanha estão Inglaterra, Escócia e País de Gales. Na ilha da Irlanda temos a República da Irlanda ao sul, também chamada de Eire, e a Irlanda do Norte ou Ulster, pertencente ao R.U.

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