Por Leonardo Condurú (em 26/01/22)
I. Alguns indicadores antecedentes de recuperação da economia são bastante promissores.
Em três anos de Governo, o presidente Bolsonaro começa a restabelecer a confiança dos agentes econômicos na direção da retomada do crescimento econômico brasileiro. E o mais importante de tudo, num ambiente de negócios contaminado por uma crise econômica global martirizada por dois anos da pandemia da COVID-19.
O crescimento da arrecadação tributária da União alcançou, em 2021, R$1,878 trilhão, um número 17,32% superior ao obtido em 2020, segundo dados da SRF e recorde histórico, desde 1994, quando teve início a produção da série histórica.
Um detalhe que chama a atenção é que o aumento da arrecadação não foi devido a aumentos de alíquotas, como vinha ocorrendo em anos anteriores, mas pela retomada da produção de um lado, e do consumo, de outro.
Se pelo lado da oferta houve marcante redução da inadimplência e dos atrasos nos pagamentos de tributos, deve-se ressaltar o aumento de 25% no recolhimento do IRPF, o que denota aumento de renda das pessoas físicas.
Este fato, aliás, é também corroborado pela geração de cerca de três milhões de empregos formais em 2021, com dados de dezembro/21 ainda não contabilizados que, desde 2010 com o Petrolão em plena ebulição, não crescia tanto.
As medidas de estímulos fiscais e creditícios aos setores formal e informal da economia foram expressivas. Só com o Auxílio Brasil espera-se em 2022 que sejam atendidas cerca de 17 milhões de pessoas, num grande exercício de inclusão social.
Aliás, algumas medidas de extensão dos estímulos fiscais como o Programa de Geração de Empregos para jovens de 15 a 29 anos e também para adultos acima dos 40/50 anos, que compreendem capacitação profissional, bolsa de meio salário mínimo, vale transporte e auxílio refeição, poderão contribuir ainda mais na direção do crescimento econômico em 2022.
Vale ressaltar, que os montantes concedidos a título de auxílio emergencial em 2020 e 2021 ultrapassaram a soma concedida em 15 anos de bolsa família pelos governos passados.
O que, por si só, sinaliza o esforço do Governo em estancar os efeitos deletérios de dois anos de pandemia da COVID-19, o que contribuiu bastante para a retomada da produção e do consumo e que deve se refletir ainda mais forte em 2022.
O cenário para 2022 é bastante auspicioso, apesar da inflação renitente (em torno de 10% a.a.), por conta do câmbio ainda muito elevado (USD1,00 ≈ R$5,50) e da crise mundial que têm gerado boa dose de incertezas nos principais mercados, em especial nos EUA e Europa.
Na minha opinião creio que duas âncoras de manutenção do cenário positivo para a economia em 2022 residem na manutenção da Selic nos atuais patamares, em torno dos 9,25%a.a., de modo a recompor a poupança das pessoas físicas grandemente comprometida com as quedas abruptas e sem sentido ocorridas anteriormente; e na estabilidade cambial, como formas de inibir o avanço da inflação.
O leitor logo entenderá o porquê dessas duas assertivas, em torno dos juros e do câmbio.
II. Como se deu o cenário de crise econômica global em razão da COVID-19
O recrudescimento da pandemia na Europa, logo no início de 2020, com números avassaladores de contágio e mortes de idosos, em especial na Itália, causou pânico e temor em muitas economias europeias, o que se estendeu depois para as principais economias, como no caso dos EUA.
Medidas de controle sanitário e confinamentos por longos períodos levaram à desorganização do mercado de trabalho e de muitas cadeias produtivas, conduzindo a descompassos na oferta e demanda das economias europeia e americana, ainda não superados.
Num primeiro momento deu-se o choque de demanda, com redução drástica do consumo, por conta dos movimentos precaucionais das pessoas acometidas da síndrome do pânico (rememorando-se o que foi a gripe espanhola no séc. XIX).
Afastamentos de trabalhadores por conta de contágios, quarentenas e confinamentos desestruturaram os mercados de trabalho, afetando drasticamente a produção e conduzindo a um brutal choque de oferta, que levou ao desabastecimento de matérias-primas, insumos, recomposição de estoques e até à escassez de mão de obra.
No caso brasileiro, uma única diferença em relação às medidas adotadas pelos países europeus e os EUA: os lockdowns extemporâneos — que levaram ao desemprego em massa e fechamentos de empresas e lojas comerciais em todo o País —, foram devidos à atuação de governadores e prefeitos, com o chamamento do “fique em casa, a economia a gente vê depois”.
Um subproduto indesejável dessa disrupção no equilíbrio entre oferta e demanda foi a inflação, nunca dantes experimentada em vários desses países, como no Reino Unido, onde o petróleo, o gás e a eletricidade tiveram aumentos expressivos na casa de três dígitos
Nos EUA não foi diferente, com a inflação indo além dos 7% a.a., o que não ocorria desde 1984, sem que houvesse alterações na taxa básica de juros que gravitou próxima de zero por cento durante todo o ano de 2021.
O Governo Biden dispendeu em 2020 e 2021 cerca de USD 6 trilhões em estímulos fiscais e monetários para manter a economia girando, buscando obter também melhores indicadores de aceitação popular.
Mas nem isso foi suficiente, por exemplo, para conter a queda de sua popularidade que atinge níveis recordes, até junto de sua base eleitoral democrata.
Diante de tudo isso os EUA tiveram um aumento de 5,7% no PIB de 2021, um bom sinal para 2022, porém com a ressalva da quase inevitabilidade de aumentos na taxa básica de juros americana, sob pena de perda de controle dos rumos da inflação e da economia.
Ora, a alta dos juros americanos em 2022 — no que aposto todas as minhas fichas —, tenderia a provocar fuga e/ou refluxos de capitais nos países emergentes, em especial o Brasil, se por aqui fosse mantida a política de reduções da Selic como vinha sendo feito pelo BCB, daí o nosso alerta no final do tópico I.
Alguns analistas asseveram a possibilidade de forte aumento da SELIC, acima de 1%, já na primeira reunião do COPOM de 2022, prevista para o início de fevereiro, como forma de inibir a inflação e manter a atratividade dos juros brasileiros frente a eventuais aumentos da taxa de juros americana.
No tocante à taxa de câmbio, o Governo não deveria, ao meu ver, procurar desvalorizações do real como estímulo às exportações, uma vez que os principais setores exportadores — o agronegócio e a mineração, em especial — já estão suficientemente providos pelo aumento da demanda de commodities do resto mundo, sob pena de perda do controle da inflação.
Neste particular, vale lembrar quanto ao bom uso do câmbio, que poderia ser atenuado para diferentes faixas de preços do petróleo Brent, através de um mecanismo como o Dólar Combustível (Dc), relativamente aos preços dos combustíveis, diesel e gasolina, o que seria um excelente inibidor de aumentos de preços e da inflação.
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